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Uma aventura no Porto

12 mai 2011

PREMÍO CAMÕES 2011 : MANUEL ANTÓNIO PINA

 

cartaz Pina-2

 

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21 mars 2011

O Dia Mundial Da Poesia

 

Este ano foi assim:

com menos 50%

na Assírio & Alvim

comprar barato

e bom, isso sim

 

9789723708349p

9789723715040

9789723715675

fotoK_Zeca_Afonso

 

K_Medo

e comprámos ainda mais...

Sabe bem, pagar tão pouco na Passos Manuel...

11 février 2011

Poemas com Cinema


comcinemaPoemas com Cinema (Assírio & Alvim), a mais recente antologia de poesia portuguesa perfeitamente identificada com a componente orgânica que a anima, é a consequência dum trabalho desenvolvido por académicos pertencentes ao Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa que também se inscrevem numa rede de investigação internacional (Lyra Compoetics). Esta última publicação insere-se portanto numa problemática delineada por estes investigadores dos quais reencontramos a Rosa Maria Martelo e a Joana Matos Frias desta vez como antologiadores às quais se junta o Luís Miguel Queirós. «Conscientes da presença relevante do cinema na poesia portuguesa, quisemos fazer um livro que mostrasse essa relação sob diferentes aspectos. A antologia divide-se, assim, em cinco capítulos: "No Cinema", "Depois do Filme", "Homenagens", "Onde o Cinema se Insinua" e "Filmagens". Partimos de uma abordagem mais concreta, com textos sobre a experiência da sala de cinema, a projecção do espectador nas personagens ou a reacção à virtualidade da imagem fílmica, terminando com poemas nos quais a relação com o cinema é mais indirecta. Com esta orientação, pretendemos também mostrar que, ao contrário do que se pensa, o diálogo da poesia com o cinema ultrapassa as relações meramente temáticas. Muitas vezes, não está em causa um filme, mas uma experiência do cinema que determina, discursivamente, o poema.» diz Rosa Maria Martelo (in JL, 12 de Janeiro de 2011). Deste modo, a estrutura da antologia é o resultado final duma linha de investigação exclusivamente centrada, nesta publicação, sobre as relações inter-semióticas entre poesia e cinema. Mais uma vez o ponto de partida desta antologia assenta num texto de Herberto Helder fundamental para toda a inquirição desta temática, como já fora dito noutras paragens. «O texto Cinemas, de Herberto Helder, que abre a antologia, constitui uma boa introdução a essa questão, na medida em que permite perceber como as duas artes partilham uma experiência da imagem. Apesar da imagem poética ser tecnicamente diferente da cinematográfica, há uma dimensão de virtualidade que lhes é comum.» diz a investigador portuense. Manuel António Pina, poeta incluído nesta antologia, é um exemplo forte da presença do cinema na poesia não só pela experiência cinematográfica vivida, mas, sim, pela sua aproximação poética ao Ruy Belo poeta que mais manifestamente se pronunciou sobre a qualidade da imagem em movimento e da sua capacidade em despertar e depurar a visão: ««No way out», «Vício de matar» e «Esplendor na relva» são poemas onde o cinema me ensinou a ver.» (in Homens de Palavra[s]). «A verdade é que é possível, de facto, encontrar “cinema” (ou aquilo a que hoje chamamos “cinema”) ou formas tipicamente “cinematográficas”, nas obras literárias anteriores ao cinema. Em muitas passagens da Ilíada, particularmente nas descrições de combates, há “câmara subjectiva”, há “planos”(planos de pormenor, planos de conjunto, panorâmicas), “plongés”, “raccords”, etc., e uma sintaxe que poderemos hoje chamar de “montagem” […]. E por aí adiante. A própria utilização de técnicas narrativas de elipse e de “montagem paralela” no romance poderão ser hoje ditas de “cinematográficas” ou alguns dos seus diálogos ou formas literárias de campo/ contra-campo…». Aqui, Manuel António Pina fala-nos antes de mais da relação do cinema com a narrativa (e também da narrativa pré-cinematográfica) o que, no entanto, não exclui a poesia deste diálogo nomeadamente se atendermos à estrutura narrativizante da poesia portuguesa mais recente. As técnicas enumeradas pelo poeta e cronista português são algumas das técnicas que participam do diálogo inter-semiótico entre as duas componentes artísticas e particularmente consagradas por Herberto Helder em alguns textos de Photomaton & Vox que podemos incluir na quarta secção da antologia: «Onde o Cinema se insinua»; a mais estimulante no que diz respeito a apropriação de novas concepções da imagem por parte da poesia.

POEMAS COM CINEMA, Antologia organizada por Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós, Rosa Maria Martelo, Assírio & Alvim, documenta poetica/ 139, 2010.


2 février 2011

Colloque Agustina Bessa-Luís

«Audaces et Défigurations»

agustina 

Université Sorbonne Nouvelle Paris 3

CREPAL

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Table Ronde nº2. Questions d'Identité.

Le 21 janvier 2011, Salle Las Vergnas,

Alda Lentina, Agnès Levécot, Maria Helena Carreira (Modérateur), Maria de Fátima Marinho, Sarah Carmo.

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Sarah Carmo.

Titre de ma communication : «Figures du double : scission et réduplication dans o Comum dos Mortais et A Corte do Norte».

 

 

18 janvier 2011

Cadernos de Viagem : Benim 2011

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23 novembre 2010

Nas pisadas de H. Ibsen, em Oslo II

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Estátua de Ibsen junto ao Nationaltheater.


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Última casa de H. Ibsen, Henrik Ibsens Gate.


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À conversa com Ibsen.


4 novembre 2010

E agora sei que oiço as coisas devagar.


T97VQ77APLGJ68VVVA1I9XYSP34IKSSe esta antologia, ou melhor, antologia de textos críticos, precisasse de alguma justificação, serviriam dois argumentos: porque a poesia de Daniel Faria, apesar da terceira edição da sua obra completa (Poesia editada pela já extinta Quasi) permanece, ao meu ver, num campo muito restrito; e porque era preciso – e é preciso – dar alguma orientação crítica a uma obra, algo perdida nas variadíssimas conjecturas, desde o poeta religioso até ao misticismo puro e duro, não obliterando uma série de questões genético-literárias que me parecem no mínimo perturbadores. Haverá aqui muito a dizer. Posso, porém, asseverar que esta espécie de encruzilhada ou azáfama (afirmar, sustentar e inclusive apoderar-se das coisas) não prejudica em nada a obra do poeta, muito pelo contrário, só vem revelar a burrice de certos letrados, ensaístas e sobretudo leitores, convictos do seu saber, perante uma obra tão incomensurável e desestabilizadora. Chacun n’entend que soi ; ils travaillent beaucoup, ces sauvages, como diz Hölderlin. Há algo de muito importante em Daniel Faria – pode parecer muito simples mas é preciso ter isso em mente – que é o processo de escrita. Processo, este, que remete para a utilização da justaposição (essencialmente a metáfora expansiva) e da fragmentação do texto no qual o poeta se subtrai: cabe então ao leitor proceder à recombinação do sentido que poderá desvendar, recompondo o elemento ausente, como num puzzle. Esta implicação do leitor revela a vertente didáctica a que podemos associar o motivo da “explicação” próprio do seu primeiro livro Explicação das Árvores e de Outros Animais e, cuja finalidade parece ser a edificação ou seja conferir uma conduta através de uma série de actos significativos que fazem do poeta o sujeito mesmo duma iniciação. Acho que é importante reter esta lição. É óbvio que cada um é livre de pensar, de interpretar; só que não podemos dizer mais do que lá está, e não podemos desvirtualizar ou descompor uma tal obra. Devemos, sim, recompó-la, reconstrui-la. É esse o maior ensinamento que nos legou Daniel Faria.

Esta longuíssima introdução vem a propósito da publicação das Actas do Colóquio sobre Daniel Faria – E agora sei que oiço as coisas devagar – realizado no Porto em junho de 2009 e assinalando o 10º aniversário da morte do poeta. O livro que reúne as comunicações do colóquio é, mais uma vez, fruto do esmero e do trabalho duma comissão de espólio que tem levado a cabo a publicação e difusão da obra do poeta, como também a sua afirmação na cena literária mais recente, como este evento por exemplo. O contributo de alguns investigadores como Rosa Maria Martelo, Joana Matos Frias, Celina Silva, conjuntamente com a comunicação de Rui Lage (muito estimulante) são cruciais para o enquadramento crítico-literário do poeta. O trabalho da Elsa Pereira, assevera-se essencial para a recuperação da obra de juvenília cujos ecos encontramos ao longo do presente livro. Trata-se portanto dum livro que assinala uma viragem nos estudos da obra de Daniel Faria com a tentativa de recuperar e de reavaliar os seus três primeiros livros – que devem ser entendidos como a necessária porta de entrada – banidos desde então pela Vera Vouga e pelo José Ricardo Nunes, algo infelizes. Se bem que a Vera Vouga foi implacável quanto à inclusão da sua obra de juvenília na obra completa de Daniel Faria, o que não deixa de ser no mínimo paradoxal. Palavras finais para o Francisco Topa que assina um excelente prefácio no qual faz um balanço muito bem fundamentado da repercussão da obra de Daniel Faria.

Nota menos: a não participação de Luís Adriano Carlos que até hoje escreveu não só o melhor ensaio, como também o mais certeiro, sobre a poesia de Daniel Faria. O que faz dele, a meu ver, o grande especialista de Daniel Faria com apenas um texto e uma dúzia de páginas, nem tanto. Podem, no entanto, consultá-lo aqui.

Nota mais: a minha primeira comunicação: Paolo Néné, «O movimento do olhar: para uma leitura da paisagem em Explicação das Árvores e de Outros Animais e Homens que são como Lugares mal Situados», pp. 211-233.

25 octobre 2010

O suave rodopiar das folhas dum Outuno, em Oslo

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Slottsparken.

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Domkirke.

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Túmulo de Henrik Ibsen, Vär Freisers Gravlund.

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Nós, junto ao Museu Fram.

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Vär Freisers Gravlund.


14 octobre 2010

Dois Poemas de Paolo Néné

O Limoeiro do Avô

a pernada verga-se num movimento
quebrado pelo peso dos seus frutos.
despegam-se as folhas num ritmo
quebradiço que pauta o tempo.

o amarelo da casca desfaz-se em veias
que rebentam com a forma pura do fruto.
o bico do limão cede, numa última tentativa,
deixa cair o limão, para decompor-se
na podridão dum charco.

se o fruto nos ensina a cair
na fenomenologia duma queda
contrária aos frutos de Echevarria,
porque não desprender-me do meu tronco
e deixar-me cair como tu
                                    avô
experimentar a queda, despedaçar-me
e apodrecer.

fosse eu uma folha ou um limão
e uma mão ou o vento viriam libertar-me.


[Oslo] Christiania/25

                                        para o Jorge de Sena

Sento-me no pátio, a fumar.
regresso à experiência universal do medo
ao voltar-me para a trave dum postal,
comprado num museu em Oslo.
toda a estrutura do poema assenta
nesse piscar de olhos inquiridores
que mais não capta o que o pintor
nos dá a ver num derrame sonoro,
desvario de impulsões luminosas
perdidas na realidade dos sentimentos.
há muito, caminhava diante do meu avô.
o sol tomba como uma constelação de coisas ténues.
sinto agora um bafo de melancolia, nuvens de
um mal estar dissolvido pela pregnância dum grito,
abrindo novas linhas, novas cores, numa paisagem quente,
agora fria, distorcida pela sintaxe dum rosto pálido
abandonado, estremecido, esvaziado pelos olhos
entre as sinuosas pinceladas dumas mãos gastas.
o sol tombou. o mar e a aldeia negrejam dum azul arfado.
acaso fico com a ponta dos dedos negros.terá sido o cigarro
a esmiuçar-se? ou um toque oblíquo num sujeito pintado?
suspenso, ele permanece subordinado às emoções de quem o inscreve.

PN.

10 octobre 2010

LEITURA DA PERIFERIA IV

small_songRenata Correia Botelho é segundo José Mário Silva uma das novíssimas vozes poéticas «que vale a pena acompanhar». Aquando da publicação do seu primeiro livro editado pela Averno, Um Circo no Nevoeiro, o crítico e poeta José Mário Silva tinha destacado «a extrema depuração» e «a rara entrega emocional» como alicerces dum «lirismo quase kitsch, em fusão com os elementos da natureza». Com o seu livro mais recente intitulado Small Song, Renata Correia Botelho reinveste no mesmo registo, acertando num tom transfigurador, por vezes agreste, cortante. Não por acaso, o primeiro texto do livro, «A Árvore das Raízes», começa com: «a minha infância tem uma árvore/ assombrosa. É uma bela história de amor/ entre as nossas mãos pequeninas/ e aqueles seus braços enormes, bravos e/ loucos como o riso das mães, que faziam abrandar o medo e a tarde.». A árvore, a mãe, a infância, prefiguram desde logo as relações que se estabelecem entre a terra e o céu, entre um presente e um passado e a regenerescência de figuras carnais perdidas em figuras de papel, numa deambulação pelas ruas da infância – verifica-se que a primeira parte do livro se intitula precisamente «A Minha Rua». A figura do tempo impõe-se e, é nela que se propicia o «encontro das sombras» como no poema «O Grande Pássaro»:

no tempo de uma mão acontecem
vidas inteiras: a solidão, o milagre
do amor, corpos que se evadem
do papel e se aninham entre os dedos,
e respiram pela nossa boca
e engendram connosco monstros na noite.

até à página em que o grande pássaro
nos transporta, no silêncio do seu voo,
para a imensa hora azul, aquela linha
secreta do encontro das sombras,
e, num dizer mudo de asas, nos põe no colo
o livro onde, finalmente, viveremos.

Trata-se duma evocação amorosa, obsessiva, consagrando miticamente as figuras que já não são, um canto que celebra os mortos, um epitáfio tal como em Four Quartets de T. S Eliot, em suma uma small song – uma cantilena – pela qual se entra de «olhos abertos» na morte. Assim, Renata Correia Botelho entrega-se ao longo deste livro a um luto que, implicando sobressaltos proustianos da memória, não é mera emotividade. É antes interrogação sobre a vida e sobre a escrita como trabalho de luto e das «coisas que morrem» em cada um de nós.

morreu Ulrich Mühe e o seu rosto antigo
que olhara em tempos na minha direcção
enquanto ouvia a Appassionata de Beethoven,
o amor e As Vidas dos Outros. eu vira o filme
sozinha, num teatro vazio como uma igreja

abandonada de Tonino Guerra, com a cerejeira
a erguer-se entre as cadeiras e o palco
que ninguém vê. ficou tudo ligado: aquele olhar
subterrâneo que regressava agora a águas fundas,
a minha avó a ajeitar, com os seus dedos térreos,
a planta que morreu com ela, a resignação
das gaivotas ao longo da praia
e as palavras de Borges sobre
as coisas que morrem em cada agonia.

ouvirá Mühe, nos seus auscultadores,
a nostalgia do vento a rondar os dragoeiros?
és tu que cantas, Lhasa, com os melros negros,
a luz melancólica desta manhã?
quem dormirá no colo da minha tia,
protegido pelas suas mãos de árvore?

o que morrerá comigo, avô, quando eu morrer?

Paralelamente, faz-se sentir uma percuciente atenção à linguagem em busca de «palavras lavadas/ onde [se] possa encostar a cabeça» que denotam uma extraordinária construção poética de imagens da ausência como poética auto-reflexiva e isso pode conduzir-nos a poemas tão belos como este que se intitula «My Name»:

era um nome entre os dois mundos

lá em cima, onde a terra cheira
a céu , e as asas da noite nos põem
todos os dias um pouco
mais perto da primeira palavra.

no nome dela viviam casas com
janelas abertas sobre o silêncio,
pão, pétalas, o fogo e outras luzes

vivia a prece de um povo em direcção às rosas.

a vida e a morte aconteciam
assim, sábias, dentro do nome dela
como um murmúrio longínquo e familiar,
como um livro que temos medo de abrir.

o nome dela era uma cidade muito alta,
uma palavra alada e livre.

 

4 octobre 2010

ELE SABE SURPREENDER-NOS...

4 octobre 2010

LEITURA DA PERIFERIA III

capa_NPP_1O maior deleite literário que o leitor pode encontrar em Manuel de Freitas é essa espécie de rage para com a vida e a poesia, impondo como sempre a sua rebeldia. Com o seu mais recente livro A Nova Poesia Portuguesa, deparamos com uma dose dupla de rebeldia, ou não fosse a editora: Poesia Incompleta. Trata-se portanto duma nova investida do rebelde livreiro da Poesia Incompleta que, após alguns trabalhos para a Assírio & Alvim e os frequentes shows no bar A Barraca, além dos eternos sarcasmos no seu blog, decidiu lançar-se num projecto editorial. Aliás, o novo livro de Manuel de Freitas é o segundo livro editado pela Poesia Incompleta. Quanto ao pequeno livro de Manuel de Freitas – pequeno pelo número de páginas, remetendo mais para uma plaquette, no qual o conceito de livro se desmorona, pequeno também na difusão, apenas 250 exemplares –, nele se reúnem 17 poemas, todos eles endereçados a grandes figuras do círculo da Averno e outras chancelas como a &Etc que constituem e revestem um semblante de manifesto poético, ou não fosse o título do livro de Manuel de Freitas: A Nova Poesia Portuguesa. Deste feita, o livro encontra-se desprovido de prefácio, ao contrário de Poetas Sem Qualidades em que o poeta se insurgia contra "os ourives de bairro" e "os artesões tardo-mallarmeanos". Porém, a controvérsia continua bem presente apesar de menos acentuada, ao não incluir poetas de outras esferas, tal como o Luís Quintais, o Daniel Faria ou ainda a Rosa Maria Martelo (também ela da Averno). Mas, este livro não é uma antologia, nem tão pouco uma antologia da Nova Poesia Portuguesa, é sim uma recolha de poemas que constituem a marca afectiva e subjectiva dum poeta para outros poetas, como António Manuel Couto Viana que subjaz todos os poemas, ou ainda a figura intrometida e algo anacrónica de Herberto Hélder porque «a um génio tudo se perdoa».

21 septembre 2010

Polishop

Klivrotiago_1_Na sua mais recente entrevista ao Jornal de Letras, Ferreira Gullar diz-nos, a respeito da obtenção do Prémio Camões, que o poeta escreve sempre para os outros, não esquecendo que se escreve sempre, em primeiro lugar, para nós mesmos «mas se não somos reconhecidos pelo Outro não existimos», concluindo que «O sentido da poesia, o sentido da Vida é o outro.».
Ora, estas palavras iniciais vêm a propósito de Tiago Nené e do seu mais recente livro de poesia, Polishop. Jovem poeta algarvio, natural de Tavira, e possível familiar – tendo como referência comum o Néné do Benfica –, encontrei-me com o Tiago Nené aquando do festival de poesia em Cacela, após ter comprado o livro, atraído, que fui, pela singularidade do apelido que, de resto, também é meu. A única diferença reside na grafia, o meu levando dois acentos agudos ao passo que o do Tiago leva apenas um no último «e». À singularidade do nome junta-se desde logo a singularidade do título que por si só remete para o mundo de Tiago Nené. Um mundo que o próprio poeta tenta desintegrar ao empregar frequentemente um pendor argumentativo e por vezes ensaístico, usando de conectores do tipo: «porque», «é isso», «que», «como se».E, é precisamente essa vertente argumentativa em que o tom da confissão se mescla com imagens estranhas, forçadas, algumas até gratuitas, que torna febril e desengonçada a dimensão reflexiva dessa obra. Julgamos que o maior pecado deste jovem poeta reside na tentativa de filosofar na poesia, obliterando que a poesia é antes de mais linguagem, construção vocabular e, consequentemente escrita para os outros, para puder ser lida, reconhecida pelos Outros.
Tematicamente, o livro é interessante, colocando-se na estirpe de certos poetas da experiência, oferecendo um olhar sobre o mundo indecifrado no qual vivemos: «dormem em simultâneo sobre as escarpas/ e sobre a sua beleza suja,/ interior ao sono, interior à chuva,/ colocam as mãos nos bolsos como se lá estivesse/ parte de uma incompletude que os completasse,». Daí decorre a desconstrução, ou melhor a desintegração, temática do livro na qual se encontra misturada toda uma perplexidade comovida sobre as coisas.
É um livro de juvenília que certamente irá germinar, proporcionando novos livros, mais amadurecidos; porque a poesia nem sempre nos é dada, é também uma questão de aprendizagem.

18 septembre 2010

POESIA NA RUA EM CACELA VELHA

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15 septembre 2010

REGRESSO


Há muito que não dedicávamos algum tempo ao nosso blog, tanto eram o sol e o trabalho. Mas, eis que, com o Outuno, a Rentrée impossibilita toda e qualquer escapadela e é, assim, que regressamos a uma das nossas ocupações. O nosso blog, apesar do nosso incentivo, tem tido poucos seguidores. Alguns, não sabemos bem como, têm chegado até nós, meio perdidos. e logo a desandarem. O cenário é de todo acabrunhador. Fará, de resto, algum sentido continuar com esta pobre cantilena? Eis o problema: ser ou não ser o único leitor deste blog. Se é que ninguém preza seguir os nossos passos em terras lusas, fica pelo menos o facto de eu (particularmente) in-screver-me e passar a ler-me, numa espécie de auto-purga, em busca dum leitor capaz de dialogar connosco.
É num estilo mui pobre que se assinala este nosso regresso após umas férias bem merecidas pelas estradas de Portugal (arrastando sempre connosco as nossas teses e toda a tralha consequente). Desde o Alto Alentejo, percorrendo as cidades e aldeias de Évora, Redondo, Borba, Arraiolos, Vila Viçosa, até à montanhosa e rugosa paisagem transmontana, Vinhais, Pinheiro Novo, Pinheiro Velho, Chaves, passando por Peso da Régua, Lamego, Tomar, Regueiras, foram linhas e linhas quilométricas e uns passeios bem dados...
Da Ilha do Farol, Olhão, restam-nos a frescura e a brisa ligeira das nossas privilegiadas sessões de trabalho com a Catherine, nossa orientadora e amiga francesa, à beira da praia ou, ainda, junto à Ria Formosa.
Quanto à praia, a localidade da Fábrica, por sugestão do Hélder, foi a nossa praia de eleição. A sensação de transporte, de leveza na água, emparelhada com o areal, sempre cheio de bom marisco, propiciaram uns lindos dias...
E porque não sobram nada dos balanços, a não ser longínquas migalhas de imagens quebradas, eis que decidimos ir à praia amanhã...

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Cacela Velha

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Pinheiro Novo (Vinhais)

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Évora


23 juillet 2010

Bardos, Galdérios e Galhofa...


A Arte de Morrer Longe

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«Por essa hora, Arnaldo dava-se a uma acção retaliadora que se pode considerar temerária, tomando em conta o seu físico esguio e o feitio reservado.
Começou à entrada do elevador, quando o largo e folgazão Quintão Malpique meteu a patorra peluda entre as portas metálicas e fez disparar o sensor, evitando que fechassem. Foi Arnaldo o único de entre os dez utilizadores que não riu quando mais o fulano veio com a sua grande frase «Ai, ai, quanto mais fulgêncio me reputo tanto mais sulfúreo me alcandoro», suscitando comentários do género «Que castiço!», «Grande Malpique!». E olhou-o furibundo, quando ele lhe deu uma palmada no ombro e, depois, lhe apertou o braço com uma familiaridade que não estava lembrado de consentir.
Mas a questão não tinha ficado por aí. Foi um daqueles dias de atabalhoamento dos deuses, lá em cima, quando tropeçam ou se distraem e começam a cruzar linhas e a encaroçar as tintas. A distância de segurança a que Arnaldo mantinha Quintão Malpique, devido a uma antipatia fininha proveniente da incompatibilidade de feitios, costumava ser preservada, não apenas pelos vidros dos gabinetes, mas pelos seus passos cautelosos que evitavam aproximar-se quando o outro se repimpava na cafetaria, a dizer graçolas.
Descortina o leitor um tipo de português largo e inflado, ovante e intrusivo, propenso à calvície, com sobrancelhas de escovilhão, riso beiçudo, pelame encaracolado em todo o corpo, amador da piadola e da pirraça, grosseiro para os mais fracos, airoso para os superiores, em absoluto impenetrável a noções básicas de decência e decoro? Uma figura digna das Metamorfoses, em que se hibridam o entranhado lanzudo e o atávico malandrim? Não descortina? Então é porque este Quintão Malpique era uma raridade e convém, na passagem, examiná-lo mais de perto como espécime singular.
Se lhe perguntassem por que é que ele se tinha queixado à polícia, por carta anónima, duma velha que dependurava os cobertores nas traseiras do prédio, sem que isso afectasse ninguém, e muito menos os empregados duma empresa que não moravam ali, ele responderia, rindo: «É só p’ra chatear». Do mesmo modo, quando telefonava para a Câmara, disfarçando a voz, a denunciar um vizinho que fazia obras clandestinas numa casa de banho, era «só p´ra chatear». Também era «só p´ra chatear» o gesto de deixar o elevador encravado no nono andar para que um casal de idosos, com o seu velho cão, tivesse de se arrastar pelas escadas.»


M_rio_de_Carvalho

         

 O novo romance de Mário de Carvalho, ou melhor o/a cronovelema, género cultivado pelo próprio autor desde Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, assenta principalmente no escalpelizar do Portugal de hoje, um Portugal demasiado barulhento e ingénuo, travestido pela azáfama da internet e pela glorificação do trivial que incarna maravilhosamente a personagem do Quintão Malpique. Aliás, a personagem do intrometido e gozão Quintão reveste as características, tanto físicas como analítico- psíquicas, do português mediano, cultivador de maledicências e de galhofas em todo o género; nele reside uma assertiva crítica ao consumismo, ao chico-esperto, à falta de civismo que tantos estragos provoca na nossa sociedade. Há também neste livro uma intensa e constante matriz visual. «O nosso olhar é conformado pelo cinema, sonhamos com planos. Já não conseguimos olhar e sonhar de outra maneira» salienta o autor. E, é precisamente o que acontece em A Arte de Morrer Longe, em que o romancista recorre à montagem cinematográfica dos planos, à sua imbricação, à analepse e também à uma intensificação da narrativa com uma estrutura grosso modo fragmentária. O gosto pela incisão de certos episódios conjugado a longas descrições, suspendendo a narrativa em circunlóquios e derivas, ritmam a narrativa que parece reproduzir o movimento do olhar e o consequente processo de captação de imagens surpreendentes de tão banais.

Mário de Carvalho brinca com o leitor, manipula as convenções romanescas, interpela-nos, e sobretudo diverte-nos, para melhor projectar-nos para a trama narrativa. A própria estória dum jovem casal desavindo, Arnaldo e Bárbara, que se auto-suspeita de infidelidade mútua inexistente, não passa dum simples décor, na verdade uma intra-alegoria. Reparem na personagem funambulesca e divertidíssima do Arnaldo que se deixa descambar num ror de peripécias e de agravos dignos dum Pierre Richard ou dum Buster Keaton...

Leitura agradável e sempre refrescante para quem estiver à beira duma piscina...


9 juillet 2010

(Auto-retrato, de Fernando Lemos) «Optimament,

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(Auto-retrato, de Fernando Lemos)

«Optimament, tot poema hauria d’ésser clar, sensat, lúcid i apassionat. és a dir en una paraula, divertit.»

Gabriel Ferrater, in Da nuces pueris.


«Todos estos poetas gustan del coloquialismo, del intimismo, de la narratividad, de los poemas que se pueden, más que cantar, contar. Conceden además gran importancia a la métrica y a la estrutura poemática. Sus poemas no son nunca arcanas construcciones verbales, no pretenden deslumbrar al lector con el brillo de una metáfora, sustituir el sentido por una vaga música, por una más o menos armónica sucesión de ruidos que cada cual interpreta a su manera. Sus poemas intentan ser, antes que nada, como hemos visto en el caso de Miguel d’Ors, inteligibles: saben siempre lo que quieren decir y lo dicen de la manera más exacta y precisa posible. Se trata de poetas que tienen en cuenta a los lectores.»

José Luís García Martín, in La Poesia Figurativa.

11 juin 2010

Lírica y Epica del Balompié


portada_gA revista espanhola Leer, de Cultura e Literatura, próxima pelo conteúdo da nossa Ler, propõe na sua edição do mês de Junho um tema extraordinário e muito circunstancial ou não fosse o campeonato do mundo de futebol a decorrer na África do Sul actualmente. Enquanto que a sua homóloga portuguesa ostenta abusivamente na capa da sua edição de junho «Nesta edição não se fala de futebol», a revista espanhola desdobra-se e enaltece a problemática delineada pelo evento desportivo. O opróbrio escandalosamente pregado na congénere portuguesa denota o elitismo que anima essa revista que, nos últimos anos, tem visto esvaecer a sua aptidão literária. Seja como for, a proposta da Leer deste mês é de assinalar. A temática e a sua hipotética relação com o mundo das letras, e particularmente com a poesia, não é de todo insignificante. De resto, já tínhamos notado essa familiaridade ao trabalhar sobre o cinema e a poesia e a forma como interagem estas duas componentes artísticas. De resto, encontra-se frequentemente na poesia contemporânea portuguesa fortes sinais duma relação com o futebol. Se alguma aproximação pode haver, e há, ela dá-se particularmente pela articulação do poema com a experiência emocional do mundo, sendo esta entendida não num sentido estritamente afectivo, mas numa relação que é simultaneamente sentimental e heurística. São exemplos dessa relação por exemplo os livros de Manuel de Freitas Cretcheu Futebol Clube ou ainda Estádio. Mas é sobretudo um poema de José Miguel Silva que retém a nossa atenção e que passamos a transcrever. Este poema em homenagem à vitória do F. C. do Porto em 1987 diante do Bayern de Munich encontra-se incluído numa série de poemas sobre o cinema em Movimentos no Escuro. O que implicitamente diz já muito sobre o tipo de relacionamento que o desporto rei entretém com a poesia
.

BAYERN DE MUNIQUE 1 X F.C.PORTO 2 - ARTUR JORGE (1987)

(Lines written in dejection)

Aos dezoito anos vive-se já na antecâmara
do pesadelo, mas a vida reserva-nos ainda
o fulgor intempestivo dum embate
donde sairemos homens, estonteados
de suor e lama.

Sabíamos que não iria durar muitoMovimentos_no_Escuro
a juventude - noventa e três minutos,
se não erro. Mas o trevo permanece
nas pastagens da memória: um irónico
toque de calcanhar, uma rápida investida
no coração do tempo, as mais loucas
diagonais contra o pior dos fatalismos,
o dos tímidos.

Como esquecer aquelas fintas à tristeza,
a viva fantasia dos relâmpagos abrindo
fundas brechas no espírito simétrico,
pesado, dos teutónicos, a negação
do fado. Que foi isto, perguntámos,
como pôde? Nenhum relógio mede
tamanha velocidade.

E as lágrimas deslizam, como vêem,
pelo poema abaixo, isso é sinal de que o futuro
já passou, já ruiu a balaustrada de onde víamos,
serenos, a corrida dos minutos, coroada
de possível. Que nos resta? Nada. Felizes
os que guardam, pelo menos, a cassete.

José Miguel Silva, in Movimentos no Escuro.


29 avril 2010

Para quando um poema épico à efígie de Mourinho?

mourinho

129828

Se Fernando Pessoa o tivesse conhecido, tê-lo-ia dedicado um poema em Mensagem.
 

mou

 

15 avril 2010

Diga!


- Diga-me lá quem é ! Qual é o seu nome ? Há tanto tempo que não ouvi um nome! Diga lá!
- Deixe-se de lás! Onde é que estamos?
- Quem faz as perguntas aqui, sou eu! E, já fiz uma à qual não respondeu! Qual é seu nome?
- O meu nome é Joaquim. Sou filho da Ana e do Jacinto. Vivem mais p’ro sul, à beira do mar, numa casa que abana de inverno quando chove e ventaneja. Dos meus avós, só sei aquilo que me contaram. Agora só existem mesmo nos contos que a minha mãe não se fartava de contar. Os meus avós são feitos de ficção, de relatos que eu criei à partir dos restos de memória que me deixaram. Mas isso de contos, de certeza, que não lhe interessa!
- E, esses contos, têm nome?
- Só aqueles que me contaram e que guardei na memória. Da mãe da minha mãe, ficou o de Ermelinda, que era o nome que a minha mãe lhe dava. Mas já quando falava meu pai, era Miquelina. Talvez até fossem duas, uma feita de riso, outra de dor. O meu avô era o Faustino. Disso não há dúvida porque tinha uma vertente oculta.
- Já cá temos três nomes! Siga, siga!
- Ermelinda nasceu num dia de chuva ladeada por três irmãos: Paulo, Pedro e Pino. Três homens já feitos com pouca vontade para rir. Ao abrir grandes os olhos, diante desses três matulões, tão sérios, tão rectos, tão firmes, a Ermelinda desatara a rir, a rir, dum riso tão sonoro que ecoara durante horas nos ouvidos da mãe. Mas os irmãos assustaram-se. Nunca tinham ouvido uma coisa tão linda, que de tão nova lhes parecera tão feia. Atiraram-se à menina para tentar abafar esse riso que eles tomavam por um grito de animal. Estava quase morta nas mãos dos irmãos quando a mãe conseguiu socorrer a filha e a levou para um sítio onde os irmãos não a conseguiriam encontrar. Abandonou-a. Desde então, Ermelinda passou a chamar-se Miquelina. Foi por isso que, poucos dias depois, quando a mãe voltou atrás, arrependida por ter deixado a menina, e gritou : Ermelinda ! Ermelinda ! Ermelinda! não houve som que a menina conhecesse e não prestou atenção.


Sarah Carmo.


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