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Uma aventura no Porto
21 septembre 2010

Polishop

Klivrotiago_1_Na sua mais recente entrevista ao Jornal de Letras, Ferreira Gullar diz-nos, a respeito da obtenção do Prémio Camões, que o poeta escreve sempre para os outros, não esquecendo que se escreve sempre, em primeiro lugar, para nós mesmos «mas se não somos reconhecidos pelo Outro não existimos», concluindo que «O sentido da poesia, o sentido da Vida é o outro.».
Ora, estas palavras iniciais vêm a propósito de Tiago Nené e do seu mais recente livro de poesia, Polishop. Jovem poeta algarvio, natural de Tavira, e possível familiar – tendo como referência comum o Néné do Benfica –, encontrei-me com o Tiago Nené aquando do festival de poesia em Cacela, após ter comprado o livro, atraído, que fui, pela singularidade do apelido que, de resto, também é meu. A única diferença reside na grafia, o meu levando dois acentos agudos ao passo que o do Tiago leva apenas um no último «e». À singularidade do nome junta-se desde logo a singularidade do título que por si só remete para o mundo de Tiago Nené. Um mundo que o próprio poeta tenta desintegrar ao empregar frequentemente um pendor argumentativo e por vezes ensaístico, usando de conectores do tipo: «porque», «é isso», «que», «como se».E, é precisamente essa vertente argumentativa em que o tom da confissão se mescla com imagens estranhas, forçadas, algumas até gratuitas, que torna febril e desengonçada a dimensão reflexiva dessa obra. Julgamos que o maior pecado deste jovem poeta reside na tentativa de filosofar na poesia, obliterando que a poesia é antes de mais linguagem, construção vocabular e, consequentemente escrita para os outros, para puder ser lida, reconhecida pelos Outros.
Tematicamente, o livro é interessante, colocando-se na estirpe de certos poetas da experiência, oferecendo um olhar sobre o mundo indecifrado no qual vivemos: «dormem em simultâneo sobre as escarpas/ e sobre a sua beleza suja,/ interior ao sono, interior à chuva,/ colocam as mãos nos bolsos como se lá estivesse/ parte de uma incompletude que os completasse,». Daí decorre a desconstrução, ou melhor a desintegração, temática do livro na qual se encontra misturada toda uma perplexidade comovida sobre as coisas.
É um livro de juvenília que certamente irá germinar, proporcionando novos livros, mais amadurecidos; porque a poesia nem sempre nos é dada, é também uma questão de aprendizagem.

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