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Uma aventura no Porto
2 novembre 2008

APOPLEXIA DA IDEIA

PRÉSENTATION DE :

 

APOPLEXIA DA IDEIA

de MARIA QUINTANS et illustrations DE JOÃO CONHA

apoplexia

 

Porto. Rua Osório. C’est le Gato Vadio, espace multiculturel. Ambiance feutrée, style New Age sur fond de lectures poétiques. Après les lectures de poèmes de Álvaro de Campos et António José Forte le mois précédent, nous avons assisté, hier à la présentation d’un recueil de poèmes de Maria Quintans au Gato Vadio autour d’un sympathique verre de vin do Douro, en suivant de long le mouvement des lèvres qui s’articulaient un partout dans cette petite salle, arrière boutique d’une petite librairie autrefois boucherie, où tous devenaient tour à tour spectateur et lecteur. Ici, pas de questions tordues juste de simples lectures collectives, véritable espace de partage oral dans la pure tradition portugaise. Les proprios sont jeunes et passionnés. Ils tiennent ce petit temple de la lecture avec tendresse en fidélisant les gens. On y trouve, par ailleurs la revue Telhados de Vidro de Manuel de Freitas ainsi que toute une panoplie d’ouvrages du fantasque éditeur Vítor Silva Tavares : & Etc. Pour conclure, voici un poème de Maria Quintans qui nous a gentiment dédicacé un exemplaire de son livre.

 

O que há em tudo é um inútil calor frio onde se senta a chuva lenta

das sombras da janela.

em tudo. o vulgar assobio dos escrúpulos a rasgar sorrisos como se os

cobertores no ombros servissem para evitar vómitos distraídos onde

a gente não vê nada. a gente não sente nada. A gente não sonha nada.

só as palavras belas na linha da folha.

 

deus nunca escreveu direito por linhas tortas e eu nunca me virei

na cama sem pensar na pele. nunca me esqueci de lavar os dentes como

se fosse importante falar disso. as estradas não demarcam caminhos.

 

é uma estratégia inútil tentar inventar conceitos nas manobras da língua.

porque a língua mexe. mexe-se de baixo par cima e de cima

para o centro até ao céu da boca e não é nas palavras que se move

a língua, é na língua de outra língua. no mistério de outra língua.

é essa a palavra. é esse o sentido. é esse o arpão do tempo a cravar

na vida o único papel decente da palavra.

é inútil o sentido. desassossegar palavras. rebentar o dique do incapaz.

gozar na cama dos verbos com os substantivos podres a deixar vestígios

de sémen no ruído dos ventres impossíveis.

 

invoco as figuras de estilo para as queimar na fogueira dos paradoxos

normais.

 

invoco os abandonos de ser qualquer coisa mais do que uma mão ou

um dedo ou um par de memórias que não são mais do que choros

inconsequentes e abjectos.

 

invoco cambalhotas imaginativas que ninguém dá. que ninguém

quer. que ninguém tem. que ninguém diz.

 

invoco a palidez dos desertos a crescer no baço das coisas vagas.

 

o que há em tudo é inútil coisa nenhuma a precisar

do vulgar para comprar bananas.

 

a poesia é uma estátua grega que perdeu o sexo.

 

a poesia não existe.

 

Maria Quintans, Apoplexia da Ideia, Lisboa : Papiro Editora, 2008, p 11.



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