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Uma aventura no Porto
29 octobre 2008

MANUEL DE FREITAS

Escudos humanos

Num intervalo de comentar
a guerra – Bassorá, não esperes
piedade – lembrou-se de lhe perguntar
por Ulisses; se não recordava,
dos tempos de escola, nomes
e episódios cantados na Ulisseia.

«Dá-me outras palavras», pediu
quem o escutava, «não conheço
Portugal de Norte a Sul».
Pois não; nascera em Moçambique
há cinquenta anos e confundia
a guerra de Tróia com a vaga
aparição de golfinhos em Setúbal.
Mas tinha visto Uma Ulisseia
no Espaço. Seria isso?

Dois homens, numa taberna,
enquanto chovia. O terceiro
era eu: aquele que escreve
e não escreve este poema. Entretanto,
Ulisses veio comprar tabaco,
cerveja e pão. Os longos cabelos,
caindo sobre um blusão negro,
as botas cardadas desafiando a chuva.

Não será por acaso que estamos
na rua Cesário Verde, número trinta
(desculpe, senhor Costa, esta publicidade toda).
A noite e o ódio vêm de novo abençoar
o inferno desigual de todos,
a apagada e vil cerveja que nos junta.

Penélope bem pode esperar.
Esse dano colateral
a que chamamos angústia
serve de montada às Bolsas do Ocidente,
no estertor da última cruzada.

«Até amanhã». Nada podemos fazer.
Oferecemo-nos como escudo
ao peso inútil de mais um dia.
A guerra já está ganha,
a morte é garantida e um poema,
infelizmente, não é uma arma química.

A Flor dos Terramotos (Averno 010)

 

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Commentaires
L
Prezado Manuel de Freitas, envio-lhe esta mensagem por este meio, uma vez que perdi o contacto que me enviou, e acredito que através deste espaço, a mensagem lhe chegue. Queria dizer que gostei muito do seu livro Boa Morte, mas não vou poder corresponder aos seus desejos, apesar de nada ter contra a homossexualidade, sou aliás contra qualquer tipo de discriminação, seja ela qual for, uma vez que somos todos iguais à face da Terra. Louvo-o inclusivé, a si e ao António Manuel Pina, pela devoção aos pobres e carenciados e às meritórias causas da Ordem Franciscana. <br /> <br /> Com os meus desejos de Felicidades, <br /> Luís Boa Morte.
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