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Uma aventura no Porto
8 mars 2010

LEITURAS DA PERIFERIA II


image_571Com esta nova publicação, já a encerar o ano de 2009, a Averno soube inovar e, de certo modo, renovar a sua gama de autores com uma figura ímpar da crítica literária. A Porta de Duchamp, da autoria de Rosa Maria Martelo, é mais um livro fortemente temático. Aliás, isto tem sido uma constante nas últimas publicações poéticas, em que muitas vezes as obras assentam num elemento poético decisivo.
“Este estranho objecto” ou “Imagens e pensamentos em escrita condensada” são as formas encontradas por António Guerreiro para caracterizar o novo livro de Rosa Maria Martelo que se desdobra sobre o motivo da porta. A questão do género não é de todo negligenciada pelo crítico da Actual e assevera-se muito interessante neste contexto : «Reconhecemos nesta dialéctica entre imagem e pensamento entre ficção e reflexão, nestas prosas curtas que trabalham com e contra o pensamento conceptual um género literário tipicamente moderno que é o “Denkbild” : o pensamento por imagens e sem conceitos a que aspirava Hofmannsthal e que Ernst Bloch dizia ser um modo de “pensar efabulando”». Também Walter Benjamin sonhava com um ensaio que fosse constituído apenas por imagens, além dos variadíssimos textos dedicados à intenção alegórica em Baudelaire.
Ora, A Porta de Duchamp parece mesmo provir ou, pelos menos, ser a natural expansão dum texto crítico de Rosa Maria Martelo : «Veladas transparências (o olhar do alegorista)» recolhido no livro Vidro do mesmo vidro. E, como sempre acontece nos textos críticos de Rosa Maria Martelo, o ponto de partida, o centro de onde irradia o seu pensamento é a leitura de outros textos. Só que neste caso, além de versar sobre questões de intertextualidade, convocando o seu próprio universo poético, também enceta um diálogo com o seu último livro de ensaios que não deixa de nomear : «Vidro do mesmo vidro, em dois pedaços – contíguos, não contínuos: este, que agora uso, como uma lente, e o outro que através dele procuro ver, sem discernir qual dos dois o mais opaco ou qual dos dois mais transparente.».
O vidro é o material que reveste a palavra, como nota a autora, «vidro das palavras», na tentativa de conciliar a tão RL_1145_capapoética dicotomia entre significante e significado. Vejamos um trecho do texto «Vidros», já aqui referenciado : «Ainda que sendo o mesmo vidro, não há como juntar vidro com vidro e ocultar a cicatriz que não continua o mesmo quando do mesmo se separa. E para mais neste caso, sendo um como o outro translúcido, e eu sem saber de qual dos dois estou a falar agora.».
É um livro íntimo, raso, limpo, repleto de imagens nas quais transparecem uma coesão unitária, a busca duma linguagem poética. Rosa Maria Martelo nem só reabilita a figura da alegoria como soube essencialmente seguir o seu auto-ensinamento : «a meu ver, a alegoria encerra em si mesma uma grande produtividade poética e hermenêutica, devendo ser inteiramente reabilitada do ponto de vista crítico.».

É mesmo para ler...


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