Cinematografias, Nuno Felix da Costa,
O Filme de Hoje
Atravessa a minha memória como o nome
que numa língua abstracta se materializa.
Sê a energia pura de um sismo, e,
do mesmo modo implacável que sacodes a terra,
abala-me – é preciso que os cães arrasem a carne
até os olhos da abóboda celeste cegarem
com a vertigem da orfandade.
esbraceja, cibernauta, lança amarras à toa
e desfia-las como se o infinito estivesse em ti
que substituis a linguagem pelo olhar de um espelho
a cada gesto do dia. A voz translúcida que o embacia
dança com a tua imagem e apareces às gargalhadas
de um lado escondido do jardim. Tu arrasa-lo
como uma hipótese psicótica e o filme prossegue
em intrigas de sacerdotizas e índios emplumados muito maus
repetindo os mesmos hinos mudos.
Como o Pinóquio, ganho a alma mecânica de um touro
e corro o Mundo para que o filme acabe.
Lisboa, 1997