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Uma aventura no Porto
5 novembre 2009

NOTAS DE LEITURA


FrAgostAcabei de reler – no âmbito da minha tese de doutoramento – a Tese de Licenciatura de Daniel Faria sobre Frei Agostinho da Cruz, intitulada : «A vida e conversão de Frei Agostinho : entre a aprendizagem e o ensino da Cruz». Trata-se dum trabalho desenvolvido entre 1994 e 1996, segundo o que pude indagar. Julgo que seja um texto preponderante, tendo em conta a familiaridade que entretém com a obra poética de Daniel Faria. Com efeito, podemos avistar nela um série de pontos temáticos que, de certo modo, mantêm-se bem presentes nos seus três livros ; isto é a chamada obra de maturidade – publicada, em primeira mão, pela Fundação Manuel Leão. Antes de mais, convém salientar alguns pontos do prefácio que, inocentemente, apontam já para uma série de debilidades. De facto, o prefaciador abusa, e muito, dos qualificativos e nomeadamente do grau de superlativação, pouco usual num trabalho destes, enaltecendo as qualidades ímpares de Daniel Faria , falando mesmo em «superioridade humana», «elevação poética da sua escrita», referindo-se também à «elevada classificação» do seguinte trabalho. Bem, isto mais parece uma rubrica de necrologia – o que não deixa de ser aliás – do que propriamente um prefácio a um trabalho de pendor científico. Quanto à apresentação do trabalho, notamos sinais de uma leitura errada ou no mínimo muito ambígua. De facto, na página nove, Carlos A. Moreira Azevedo faz menção dum hipotético questionamento do autor – Daniel Faria – acerca do misticismo do frade arrábido ; o que não deixa de ser errado. Na terceira parte, Daniel Faria parece discordar, principalmente, de Maria de Lourdes Belchior quanto à interrogação, desta última : «Mística a poesia de Frei Agostinho da Cruz?». As páginas 234 e 235 revelam todo o empenho de Daniel Faria em demonstrar por uma série de citações que a interrogação da investigadora portuguesa não faz sentido, concluindo por uma questão retórica extremamente afinada : «Não é expressão de um canto que sempre que se abeira da sua possibilidade se impossibilita?». Aliás, deve dizer-se que o Daniel Faria está constantemente a entrar em discordância com os ensaístas literários, desmontando o raciocínio destes através de imagens demasiado rebuscadas para um trabalho académico e, pouco explicativas que acabam por deixar o leitor um pouco embaraçado. De resto, julgamos que este trabalho carece de uma certa objectividade, remetendo para um certo desequilíbrio, no qual prevalece uma dimensão religiosa supostamente estimulada pelo seu orientador e grande Mestre Carlos A. Moreira Azevedo. É claro que devemos, aqui, salientar que se trata duma tese de teologia e não propriamente duma tese em literatura, mas não deixa de ser menos verdade que o suporte é literário: a obra poética de Frei Agostinho da Cruz.
Porém, esta tese assevera-se uma mais valia no âmbito do estudo da obra do poeta Daniel Faria. Com efeito, nela, podemos entrever os motivos e os estigmas da obra vindoura do poeta português. Se é verdade que se trata duma poesia mística, não é menos verdade que ela seja cristocêntrica. E dum cristocentrismo agostiniano, marcado pela peregrinação, pelo sofrimento físico, as chagas, e sobretudo os graus de oração mental (a meditação, a oração, a contemplação). Esta tese funciona, aliás, como um canevas, um hipotexto, um elemento de grande preponderância que também participa da dinâmica intertextual fazendo relembrar os comentários de San Juan de La Cruz aos seus poemas. Só que no caso da obra de Daniel Faria, constata-se uma inversão quanto ao delineamento da obra global ; já que a tese é anterior à publicação da sua obra poética. Pena, só, não encontrar ecos desta tese no seio das recensões e ensaios críticos sobre Daniel Faria ; publicações, estas, que no geral parecem-nos pouco rigorosas e fruto duma masturbação intelectual inefável com variadíssimas elucubrações...

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