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Uma aventura no Porto
21 juillet 2009

Aquando do nosso último encontro, o José Rui

Aquando do nosso último encontro, o José Rui ofereceu-me a Poesia Reunida dum colega doutorando nosso da Flup : o Fernando Castro Branco. Ao desfazer a minha tralha portuense, deparei-me com o livro muito juntinho, até mesmo pegado ao do Rilke...
Aqui transcrevo um poema que muito me comoveu ; pois, foi nesta rua que começou a Nossa Aventura no Porto: sem água e sem luz, ali junto à rotunda da Areosa, tendo por única orientação o Pingo Doce e o Doce Alto... Que saudades... Sempre, gostei muito desse bairro, da sua rua, dos seus comércios, dos pavimentos rompidos e dos gunas anti-lampiões juntinhos às arcadas do centro comercial, à noite... Também não consigo esquecer o sem-abrigo e seu cão pelos quais sempre tive uma certa tristeza e desgosto em não poder ajudar mais. Por isso, este poema também é deles: é nosso.
Obrigado Fernando.

 

Rua de Costa Cabral

Ali os invernos eram longos mas suaves em sua crueldade.A_carv_o
Em Costa Cabral as noites eram húmidas,
mergulhava-se na madrugada com o amor preso nos dentes
e o que faltasse à vida era mesmo para rejeitar.
Pelas tantas chegavam o chulo e a prostituta
e se desesperavam em cavalgadas ruidosas
como se aos ouvidos sobejasse o que chiava:
dobradiças, encaixes ralos, folga nas madeiras
e a fraqueza de muitas mortes na cova do colchão.

Eu era o terceiro excluído, se bem que no longe
de quem olha o tecto e sente o ménage incompleto
no troisième que se ressente. E dobrado o cabo
das tormentas necessárias à juventude,
que após as aulas enfrentava promontórios ao virar da esquina,
sobrava na manhã o traço grosso
de quem leva pela rua a noite
escorrendo da cabeça.

p121, in A Carvão.

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