Nas nossas ruas
BRANCURA
De tão longe. Saudades
A pálida pele
de um rosto
no qual me vejo,
e revejo
na ausência
da minha mãe.
Sombra de um
Desgosto
P.A
O TEU DESTINO
PODIA SER DOIS NOMES
Ao meu pai
Perguntar-me-á o
leitor
porque gosto de
fotografar os barcos.
Diria-lhe :
«Destino»
Desembarcado
de pé descalço
em terras andaluzes
deixando o sapato
no alto mar.
Combate de uma
viagem
chamada
«Destino»,
seguindo as
pisadas de seu pai,
Meu Pai caminhou
para a vida
levado pelo
vento,
buscando o azul
«Destino»,
no qual perdeu a
ingenuidade
de se ver crescer
menino.
Para ver crescer
outros dois.
És feliz paí, com
estes dois nomes ?
P.A
PORNO-VÍTOR
Profanas são as
palavras
que a tua boca
profere,
formaliza.
O rosto cheio,
iluminação
escurecida
na bestialidade
do corpo
confundindo-se na
carne
no pecado da vida
Dá-lhe vigor,
raiva
esperma, cuspo
nas redondezas
de uma boca cheia
de amor
Ela poderá
esquecer-se do teu nome
Teu pénis
esquecer, ela não poderá.
P.A
A VOZ DUM POETA
memória do
condestável
Merda da
Modernidade
a tradição devora
os teus versos,
fraterno amigo,
na rima é que é
das terras
trás-montanas
meus olhos,
minhas pestanas
os teus versos
encantam-me
mas em regueiras
hás de ficar
com a caneta a
montar
das rimazinhas
A.B.B.A.
P.A
A RODA DEIXOU DE
GIRAR
À Memória do
meu Zézito
Velha,
Só,
Metálica e fria
a roda deixou de
girar...
de girar também
deixou
o teu corpo
doentio,
em longínquas
pedaladas...
A velha corda
de atar
a caixa das
batatas
vai-se
desfilando,
desfazendo-se,
como o novelo
das linhas
que tece o meu
coração
Sela órfã
lençol de
ferrugem,
encostada na
parede do alpendre,
ela mantém-se
hirta,
presente,
firma, vigorosa,
verdadeira
como a palavra
«avô»,
dita e pensada
tantas vezes
no limiar da vida
morta,
espaço de reconciliação
Rosto secado
pela morte,
Mas
iluminado pelo
teu azul sorriso
o vento sopra
e o guiador da
bicicleta move-se
a roda gira,
para,
volta a girar
e com ela a vida
«Onde vás Avô?
.....................................................
.....................................................
«Vou ao grémio,
filho, queres vir com o avô?»
P.A
PASSOS EM VOLTA
Átrio de esperas,
plátanos
ventosos,
de passos em volta,
mecânicos corpos
nas
largas calçadas
de pulmões esfriados,
de bafo
fumegante,
a palavra breve
tesourada de
gélidos sentidos,
concita-se.
As mãos balsamadas
nos bolsos,
refogam-se
na espera
duradoura
de uma boleia
tardia
nas noites de
inverno
da Cordoaria.
P.A