Um Profeta, ou como um jovem árabe destitui o seu mentor córsico. É a história dum jovem magrebino, sem família, sem instrução ; um pequeno intrujão sem cultura que vá para a cadeia. O cenário não oferece nenhuma originalidade. Trata-se alias dum quadro recorrente no cinema francês : heroificar e celebrar a peregrinação dos árabes. Uma espécie de cantilena nojenta e profundamente naturalista que vem intensificar a vaidade dos traficantes magrebinos. Audiard adianta que não se trata dum Scarface, mas sinceramente não vejo a diferença pois, já o herói do filme de Brian de Palma tinha destituído o seu patrão... A única diferença subsiste no carácter da destituição. Em De Palma é tudo pela força do sangue, das armas. Aqui, tudo é mais fino, mais intrigante... mais fenomenológico. Também, é importante mencionar a paisagem prisional que dá vida aos protagonistas por detrás dumas grades entreabertas que não tem um pingo de originalidade. Vejamos Midnight Express ou ainda a série Oz. Porém, a força deste filme reside no realismo meticuloso e na mitologia dos filmes de gangsters, na linhagem dos filmes americanos da década de 70 (Altman, Penn, Coppola, Scorsese) que faziam mergulhar as grandes ficções num universo doentio e nauseabundo. De salientar também, o papel desempenhado por Niels Arestrup ; uma espécie de rei sem divertimento. É, sem dúvida, a grande figura deste filme. Um homem sombrio devorado lentamente pelo tédio e pelo cinismo. Por fim, resta dizer que, o protagonista, Malik, não tem nada de profeta. A não ser que ele anuncie simplesmente a vinda dum novo género de gajos, uma espécie de traficante imaculado (aprende tudo na cadeia : a ler, o idioma córsico, a economia...) que restabelece, no fim, um certo equilíbrio, ao destituir o seu mestre.

Jacques Audiard

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