Poesia, um espaço de coincidências ?
Não
sei se sou alguma coisa ao Winnie The Pooth, mas gostava se ser... Ao [Jorge Luís]
Borges, perguntaram assim : «Quem é afinal Borges ?» ; ele começou a responder
como os futebolistas, na terceira pessoa, «Borges não existe» [risos] ; depois
passou para a primeira pessoa do singular : «Sou todos os livros que li, todas
as pessoas que conheci, todos os lugares que visitei, todas as pessoas que
amei». É verdade – agora digo eu.
Escrevo
o livro comigo mesmo, com o meu sangue, com a minha vida, com a minha memória.
A minha escrita tem muitas alusões, frases. Tenho a cabeça cheia de frases! ,
do Eliot, do Rilke, do Alexandre O’Neill, do Ruy Belo e do Winnie The Pooh ;
para além de outras que não reconheço, e que se calhar são as mais importantes
ou significativas. Quando falo na minha poesia do que está atrás dos
cortinados, o que está debaixo da cama, esses medos infantis, tenho no
horizonte relações com esses poemas do Milne.
Manuel António Pina.
Entrevista do Manuel António Pina ao Público,
no suplemento Publica : 26/04/2009.