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Uma aventura no Porto
11 avril 2009

JOSÉ ANTÓNIO CORREIA

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Faz, hoje, três anos que o meu Avô José António Correia faleceu, balido por uma doença prolongada. Três anos. Interessa reparar, neste brevíssimo texto, como a memória tropeça no mistério da ausência e se levanta como uma pedra para evocar. Esta poderosa operação é fruto do amor, da amizade que sempre tive para com o meu Avô. Três anos. 26 anos, ainda não feitos : foi a idade da despedida. A minha primeira e concreta relação com a morte, não esquecendo as minhas eternas cadelas : Pombinha e Fofinha. Três anos. A minha vida transformara-se então numa casa de imagens, de paisagens, de sorrisos, de leves toques indolentes. O meu corpo esbarra continuamente num corpo não presente. O corpo do meu Avô. Três anos. Mecanismos secretos do amor que se revelam na ausência desse corpo.

O que mais me custou não foi a morte do meu Avô. Ele estava, de facto, a sofrer e neste caso a morte asseverou-se uma libertação. Foi, sim, saber que jamais iria partilhar com ninguém o que vivi com o meu Avó. Mais ninguém me poderá abraçar antes da escuridão. Mais ninguém virá cobrir-me à noite. Mais ninguém virá com as suas mãos peludas e esfriadas afagar o miúdo do seu Avô. Três anos. Mais ninguém virá com o azul dos seus olhos chorar a partida do neto para outros horizontes. Mais ninguém virá com as suas largas pedaladas passear com o neto. Mais ninguém…

Por vezes, ainda presencio o abraço de quem ainda sinto o calor... mas...

 

No meu caso, é importante salientar que a ausência revela ser um ponto de partida que, em muitos casos, conduz ao belo, ao ideal. Neste âmbito, podemos incluir uma poética do novo, da palavra sagrada, como dizia o Mallarmé. Por isso, é que me proponho relembrar o meu Avô. Soube, por exemplo, durante umas das minhas últimas estadias no Algarve, que o meu Avô não usava bigode quando era solteiro e que namorara a minha avó durante.. 6 anos. O meu Avô vivia então no Carapeto com os seus pais. Naquele tempo, já trabalhava na Fazenda do Marco, juntamente com o seu pai, o meu bisavô Manuel, onde os homens tinham que comprar as suas enxadas para poderem trabalhar. O divino encontro celebrou-se durante um baile em Cacela na zona da velha padaria. Diga-se de passagem que o meu Avô era louco para dançar. Homem de grande temperamento. Casaram, então, em 1952 na Igreja matriz de Cacela Velha, no dia 5 de Janeiro, precisamente no Dia de Reis. Os padrinhos de casamento do meu Avô foram o Zé Guerreiro e o Justino que já fora padrinho de baptismo do meu Avô. As madrinhas da minha avó foram a Mariana Guerreiro, da Nora, e a Antónia, parente de Vila Real de Santo António. O copinho de água foi em casa, na Marcela... Por fim, ao concluir, quero fazer minhas as palavras do Herberto Helder, em Photomaton & Vox, num texto que fora já publicado em Cobra : «Não se trata propriamente de montagem, diga-se : uma cuidada maneira de receber a memória, assistir à ressurreição do que foi morrendo, e morre, e vai morrer.». Podemos, então, entrever na reflexão herbertiana o meu intuito de tornar presente o meu Avô. Lembrando, o que já desapareceu.


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