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Uma aventura no Porto
4 avril 2009

uma leitura...

Assis_Pacheco


FERNANDO ASSIS PACHECO

 

Como fora prometido, regressamos com umas quantas palavras acerca da poesia do F.A.P. Após a leitura de Respiração Assistida e a descoberta de A Musa Irregular, devemos dizer-lhes que o F.A.P tornou-se num dos nossos poetas de eleição e, não é só a questão do linguajar popular e do erotismo que afiambram os seus versos. Algo, aliás que já encontrámos no Alexandre O´Neill, sem dúvida um dos maiores poetas do século passado a par do Ruy Belo. Antes de mais, a  poesia do F.A.P é animada por uma contenção da memória ressurreccional e evocatória dum passado e duma experiência dolorosa como fora a guerra de Ultramar. Uma memória que, de certo modo, diria a cada coisa narrada : levantem-se, andem e correm pelos pensamentos dos meus leitores. Trata-se duma poética da presentificação muito evidenciada por um discursivismo e um registo ficcional, próprios da geração de 70 em Portugal. Daí, talvez a forma prosaica indubitavelmente ligada à memória e consequentemente à percepção imagética visual. Mas, tudo isto coincide e co-habita com uma justaposição de tonalidades, como salienta Manuel Gusmão no posfácio de Respiração Assistida. Deste modo, a alegria, a angústia, a paixão, a tristeza, o sexo, a morte mesclam-se em dissonância. Mas, não é do género tal poema é isto, tal outro é aquilo... Não... Tudo funciona como um todo num só poema onde se operam diversas articulações musicais em harmonia. É nesse sentido que Manuel Gusmão fala de dissonância consonante. F.A.P absorve constantemente a natureza das coisas, do pobre e do podre quotidiano da guerra para devolvê-lo ao leitor com a vista cheia e a memória ainda fresca... É um dos poetas que mais se aproxima do conceito mnemónico de Baudelaire : «Malheur à celui qui étudie dans l’antique autre chose que l’art pur, la logique, la méthode générale ! Pour s’y plonger, il perd la mémoire du présent ; il abdique la valeur et les privilèges fournis par la circonstance ; car presque toute notre originalité vient de l’estampille que le temps imprime à nos sensations.» (in Baudelaire : Le Peintre de la vie moderne). O presente baudelairiano não é algo que esteja obliterado na obra poética do F.A.P, muito pelo contrário... É nele que o autor de A Musa Irregular renega a grandiloquência num estilo perfeitamente consentâneo : «Peçam a grandiloquência a outros/ acho-a a pulha no estado actual da economia». Mas essas referências aos seus próprios versos de nenhum modo indiciam uma obra que de um tal processo de auto-referência tenha feito uma das suas traves-mestras, dixit Luís Miguel Nava. Constata-se, pelo contrário, que a sua poesia  é um mero objecto irónico que lhe permite desmistificar as intituições num tom bastante coloquial... Não me alargo mais... Mas leiam este Senhor que se ainda andasse por cá colocaria o Sócrates de patas para o ar... UN VRAI MONSIEUR.

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