Cimeira do Lixo
Mas que lindos que eles são... mas nem por isso chegam aos calcanhares do Saco de Plástico londrino do Joaquim Manuel Magalhães. Esse, sim, é digno de ser belo...
poucas vezes a beleza terá sido tanta
como no lustro preto dos sacos do lixo
à porta dos hotéis, dos armazéns, das casas de comida
nas mais pequenas horas da noite em Londres.
estão amontoados fechando o esterco,
os lençóis com sangues, os restos apodrecidos,
adesivos negros que parecem afagos.
os homens ao lançá-los nas fornalhas
são erguidos a imaginações malditas,
à feroz acção dos deuses nos vulcões,
ao odor sacrílego dos alquimistas mortos.
ir na luz eléctrica e ver esses maços de treva,
essa cor quase molhada dos plásticos
a parecer verniz, a parecer chamar-nos,
a dar-nos o sebo como se fosse a arte,
tem um fervor que finda o pequeno mal, a vida.