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Uma aventura no Porto
21 février 2009

SORTE MARECAS...

CSC_1504Nas nossas tardes indolentes, a preguiça tem-se apoderado não só dos nossos corpos como também das nossas almas. Tanto a Sarah como eu temos vivido estes dias no Algarve numa suave e angustiante languidez. O Sol, logo de manhã, penetra pelas fendas das persianas e atira-nos para a fresquidão da rua, ainda sonolentos. É deste modo que o sono nos acompanha durante o dia. Posso asseverar que se trata duma autêntica tragédia... Não temos feito nada, nem leituras nem mesmo temos chegado a redigir qualquer coisa... É caso para dizer que a moleza de espírito tem sido o nosso pão de cada dia... São raras as vezes que saímos de casa, mas assim que entrámos em casa e que avistámos os livros espalhados pela mesa da sala da qual sobressai o computador branco da Sarah, invada-nos uma terrível tristeza. E a tristeza que sempre despertam no meu espírito os campos sem vida, acaba por transformar-se em outra coisa com a recordação do meu Avô Zé, em algo que me não acalma, mas que me afunda. Pareço-vos amargo mas não se trata de amargura. Gosto de estar aqui de conviver com a minha avó, de tratar das lides domésticas, de preparar o almoço, de grelhar a carne à sombra do limoeiro... Só não gosto é de ser inactivo e de não conseguir pensar... O que nós precisamos a Sarah e eu é da vitalidade da cidade, da sua confusão dos seus quotidianos mecanismos e DSC_1499finalmente do seu dinamismo. É caso para dizer que nos falta óleo... Os poemas do Cesário Verde têm sido o meu único remédio. Gosto de os ler sozinho à sombra duma azinheira ou mais frequentemente do meu limoeiro. O limoeiro é a única árvore que realmente me apazigua, em nossa casa, um cantinho muito saudável longe do falso engenho urbano plantado no campo. Passo, então, a transcrever um soneto magnífico do Cesário, Manias :

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remedos, picaresca;
a vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada, -CSC_1507
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

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