EM POESIA 2009 EN POÉSIE
Depois das queimadas as chuvas
Fazem as plantas vir à tona
Labaredas vegetais e vulcânicas
Verdes como o fogo
Rapidamente descem em crateras concisas
E seiva
E derramam o perfume como lava
E se quiséssemos queimar animais de grande porte
Eles não regressariam. Mas a morte
Das plantas é a sua infância
Nova. Os caules levantam-se
Cheios de crias recentes
Também os corações dos homens ardem
Bebem vinho, leite e água e não apagam
O amor
Daniel Faria, Explicação Das Árvores e de Outros Animais.
Après les brûlis les pluies
Font jaillir les plantes
Flammes végétales et volcaniques
Vertes comme le feu
Qui rapidement descendent en cratères concis
Et la sève
Et qui répandent le parfum comme lave
Et si nous voulions brûler les animaux de grande portée
Ils ne se renouvelleraient pas. Mais la mort
Des plantes est leur enfance
Nouvelle. Les tiges s’érigent
Pleines de pousses récentes
De même les cœurs des hommes brûlent
Ils boivent du vin, du lait, de l’eau et n’éteignent pas
L’amour
Traduction P.A
I José Rui Teixeira, Ataúde [inédito], 2008. Traduction P.A
O Poema O poema é um exercício de dissidência, uma
profissão de incredulidade na omnipotência do visível, do estável, do
apreendido. O poema é uma forma de apostasia. Não há poema verdadeiro que não
torne o sujeito um foragido. O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques,
em campos nevados, por orlas intactas. Que outra verdade existe no mundo para là
daquela que não pertence a este mundo? O poema não busca o inexprimível : não há
piedoso que, na agitação da sua piedade, não o procure. O poema devolve o
inexprimível. O poema não alcança aquela pureza que fascina o mundo. O poema
abraça precisamente aquela impureza que o mundo repudia. José Tolentino Mendonça, in A Estrada
Branca, Assírio&Alvim. |
I Le Poème Le poème est un exercice de dissidence, une profession d’incrédulité dans l’omnipotence du visible, du stable, de l’appréhendé. Le poème est une sorte d’apostasie. Il n’y a pas un seul poème qui ne fasse sentir le sujet un étranger. Le poème oblige à demeurer dans l’obscurité des bois, à travers les champs enneigés, dans des limbes intactes. Quelle autre vérité existe en ce monde mise à part celle qui ne peut exister en ce monde ? Le poème ne cherche pas l’inexprimable : il n’existe pas de dévot qui, dans l’agitation de sa piété, ne le cherche. Le poème restitue l’inexprimable. Le poème n’atteint pas cette pureté qui fascine le monde. Le poème embrasse précisément cette impureté que le monde répudie. |